top of page
Foto do escritorLetícia de Andrade Rodrigues

Correlações Entre Psicologia Analítica e Neurociências: Explorando Arquétipos e Padrões Cerebrais

Olá, vamos aprofundar o diálogo sobre a interseção entre a psicologia analítica e as neurociências. Como compartilhei anteriormente, a psicologia junguiana foi a base que sustentou meu trabalho clínico. Ainda na faculdade, há mais de 12 anos, me recordo da citação de Jung a respeito de explorar a psicologia e ampliar seus conhecimentos na área, ele disse:

Não é preciso que me sigam à risca. Um bom aluno sempre cria seu próprio caminho.

Essas palavras se tratavam tanto da importância de ter um olhar crítico, quanto do caminho de todo psicoterapeuta: a atualização constante. Por conta da psicologia analítica, me sinto incentivada a buscar novas ferramentas para complementar a compreensão do que ocorre na mente e nas emoções das pessoas.


Foi assim que iniciei minha jornada no estudo das neurociências, especialmente no campo das emoções.

Com a aquisição de novos conhecimentos eu percebo que amplio a minha percepção sobre como os processos emocionais e mentais se desenrolam em cada paciente.

Mas o que exatamente conecta esses dois campos? Como as estruturas cerebrais que estudamos na neurociência podem se entrelaçar com o que Jung chamava de arquétipos?


O Papel dos Arquétipos na Psicologia Junguiana

Os arquétipos, um dos conceitos mais desafiadores e frequentemente mal compreendidos da teoria de Jung, podem parecer abstratos para quem se aproxima da psicologia analítica pela primeira vez. No entanto, quem já se aventurou por esse caminho sabe que essas imagens simbólicas habitam nossa psique e moldam nossas percepções e comportamentos. Padrões recorrentes surgem, e nem sempre sabemos a origem deles, mas estão lá, influenciando nossos sonhos, medos e aspirações.


Jung observou que, ao trabalhar com pacientes, surgiam padrões universais que ele chamava de arquétipos. Eram padrões recorrentes nos sonhos e nas experiências de seus pacientes, além disso, realizou estudos comparativos de mitos e contos de fadas de várias culturas.


Sua pesquisa incluiu colaborações com antropólogos e estudos de religiões, que corroboraram a presença de arquétipos em tradições e rituais. Jung também analisou obras de arte e literatura, demonstrando como esses arquétipos se manifestam em narrativas, revelando realidades psicológicas comuns.


Eles não estão localizados em uma região física do cérebro, como acontece com outros processos mais tangíveis, mas transcendem a experiência individual, conectando-nos a padrões ancestrais. Eles falam de algo que compartilhamos com as pessoas ao longo do tempo e das culturas.


Neurociência e Arquétipos: Onde se Encontra a Conexão?

Agora, você pode estar se perguntando: "Se os arquétipos não são físicos, como eles se relacionam com o cérebro?"

A resposta está nos padrões inatos que a neurociência tem investigado. Embora os arquétipos não possuam um "endereço" específico no cérebro, a ciência tem explorado como nossas redes neurais respondem de forma semelhante em diferentes culturas e contextos, o que ecoa os conceitos de padrões universais que Jung propôs. Por exemplo:


  • Neurociência e Emoção Arquetípica: A neurociência demonstra que o cérebro humano evoluiu para reagir automaticamente a estímulos emocionais, como medo ou apego, por meio do sistema límbico e da amígdala. Essas reações automáticas podem ser vistas como manifestações biológicas de padrões arquetípicos, desenvolvidos para garantir a sobrevivência da espécie — como o arquétipo do "Herói" ou do "Pai Protetor."

  • Redes Neurais e Padrões Universais: A neurociência tem mostrado que certas redes neurais são ativadas de maneira semelhante em diferentes culturas, independentemente de experiências individuais. Isso ecoa o conceito de arquétipos junguianos, que também são vistos como padrões universais na psique humana.

  • Memória e Imagens Arquetípicas: Pesquisas indicam que o cérebro é programado para reconhecer padrões e lembrar-se de imagens com relevância simbólica e emocional. Assim, a manifestação de arquétipos, como observado por Jung em sonhos e mitologias, pode estar conectada a áreas do cérebro que processam memórias visuais e emocionais, ativadas por narrativas simbólicas.


Estudos Recentes e Avanços

Um estudo de 2023 publicado no Journal of Analytical Psychology trouxe novos insights sobre a interseção entre neurociência e simbolismo arquetípico. A pesquisa investigou como redes neurais se ativam em resposta a símbolos culturais e mitológicos durante terapias baseadas na psicologia junguiana.

Os achados sugerem que essas ativações ocorrem em áreas cerebrais associadas à memória e à regulação emocional, o que reforça a ideia de que, embora os arquétipos não possam ser localizados fisicamente, eles provocam respostas neurológicas que influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos. Isso pode nos oferecer uma perspectiva mais tangível sobre o funcionamento simbólico da mente.

Desta forma, embora os arquétipos e as estruturas cerebrais não compartilhem um "local físico" no cérebro, ambos sugerem a existência de padrões universais que transcendem o indivíduo, refletindo um legado evolutivo.


A neurociência ajuda a esclarecer como essas reações e padrões são biologicamente programados, enquanto Jung nos oferece uma lente simbólica para compreender essas reações e padrões como partes essenciais da psique humana, reveladas por meio de mitos e símbolos profundos.


E na Prática Terapêutica?

Essa correlação entre neurociência e psicologia analítica não se restringe ao campo teórico. No consultório, essas dinâmicas se manifestam de maneiras sutis, mas poderosas.


Em situações de fortes reações emocionais, como explosões de raiva ou ansiedade intensa, a compreensão do sequestro da amígdala e da ativação de complexos emocionais ajuda a identificar quando a pessoa está imersa em uma resposta emocional automática.


A partir disso, em vez de focar apenas na gestão emocional de curto prazo, podemos usar essa oportunidade para explorar possíveis ativações de padrões arquetípicos, sem necessariamente nomeá-los diretamente durante a sessão. Essa abordagem empática e a escuta ativa permitem trabalhar com essas questões emergentes de forma delicada e adaptada ao ritmo da paciente.


No setting terapêutico, não costumamos dizer coisas como “noto que seu complexo está ativado e se relaciona ao arquétipo da Grande Mãe.”

O que realmente ocorre é uma escuta qualificada, onde o se identifica o que está acontecendo, valida-se o sofrimento emocional e, quando necessário, propõem-se estratégias para regular as emoções. No decorrer da terapia, investiga-se o momento presente e as narrativas pessoais da paciente, conectando-as a possíveis transformações emocionais e comportamentais.


Deve-se levar em consideração que cada paciente tem seu próprio ritmo e estilo de trabalho.


Para pessoas mais pragmáticas, o foco pode estar na aplicação de estratégias concretas para mudanças no dia a dia. Ajudamos essas pessoas a definir metas claras, reorganizar pensamentos automáticos e, muitas vezes, a reconhecer e valorizar suas conquistas.


Por exemplo, pode-se sugerir ao paciente ajustar sua mentalidade para percepções mais positivas sobre si mesmo, utilizando estratégias de reestruturação cognitiva. Isso pode incluir práticas como autoafirmações positivas, criação de um diário para monitorar progressos e reformulação de pensamentos automáticos negativos.


Por outro lado, há pacientes que se desenvolvem pela via simbólica, conectando-se com contos e metáforas. Nessas situações, leituras ou outros conteúdos que ressoem com as experiências vividas por esse pacientes podem ser ferramentas valiosas para ampliar a compreensão interna, levando a uma profunda ressignificação pessoal.


A identificação com personagens e narrativas simbólicas pode abrir espaço para o paciente reconhecer suas próprias lutas e virtudes. Durante as sessões, o terapeuta trabalha com o paciente esse processo de identificação e, a partir daí, propõe ajustes comportamentais e emocionais baseados nas reflexões e emoções que emergem. Além disso, pode-se incentivar o paciente a construir suas próprias narrativas simbólicas através de técnicas como a imaginação ativa.

Independentemente do método, o objetivo é criar um ambiente terapêutico onde o paciente se sinta validado em sua singularidade e possa se reconectar com sua essência.

De qualquer forma, em todos os casos, seja para pacientes pragmáticos ou simbólicos, é essencial que se sintam ouvidos e compreendidos em suas singularidades. Isso cria um ambiente terapêutico que valida suas emoções e favorece a exploração de suas questões mais profundas.


Referências

Smith, A., et al. (2023). "Neural Pathways and Archetypal Symbols in Jungian Psychotherapy." Journal of Analytical Psychology, 68(4), 556-578.

 

E aí, gostou do conteúdo?

Me envie dúvidas e sugestões pelo chat ou pela caixa de mensagens.

Ficarei animada em escrever para você!


por Letícia de Andrade Rodrigues

Psicóloga clínica CRP 08/19065

25 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

© 2023 Letícia de Andrade Rodrigues. Todos os direitos reservados

bottom of page