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Foto do escritorLetícia de Andrade Rodrigues

Luto: O que dizer sobre a dor sentida quando perdemos alguém que amamos?

Atualizado: 23 de nov. de 2022

Imagine que você perdeu alguém e tem conseguido sentir-se bem, feliz e confiante. De repente uma lembrança minúscula faz você lembrar daquela pessoa amada, aí você desce montanha russa abaixo. Isso é o luto, essa montanha russa emocional e, mesmo que não seja assunto fácil, vamos falar disso hoje!


O luto é uma experiência única, individual que ocorre quando há o rompimento do vínculo com aquela pessoa que significa muito para você, como a morte de alguém que ama.


Embora todas as pessoas passem por esses rompimentos. Viver e resolver o luto é singular, cada um resolve da sua maneira, cada um dá um sentido a sua perda e é preciso respeitar o que cada um consegue fazer.

Na minha pesquisa sobre o tema, o que me chamou atenção foi a questão da transformação que o processo de luto envolve - é como entrar numa caverna onde você tem que cavar uma nova saída, pois não há retorno pelo caminho original.


Entrar em contato com a possibilidade ou realidade de perder as pessoas que você ama é transformador, a vida passa a ter outro sabor, outro sentido

A dor e esse sofrimento te coloca numa situação em que você precisa rever sua vida, suas necessidades e ressignificar suas experiências

Você nunca está preparada(o) para perder alguém que ama, mesmo tendo consciência que irá perder essa pessoa amada, isso não torna a perda mais fácil ou menos fácil.

É natural que o luto desencadeie um processo físico, emocional e social, você se comporta de uma maneira a demonstrar o seu luto. Aqui a tristeza precisa ser vivida, para que o sofrimento não se torne uma doença.


A pessoa que morre continua existindo em lembrança, o sofrimento é não se ver mais nos olhos da pessoa amada. Por isso, perde-se a noção de referência.


É uma parte muito difícil do luto não poder mais ouvir a voz ou ser visto pela pessoa. Embora exista recursos virtuais para preservar algumas lembranças, ainda sim a ausência do que poderia ser vivido permanece.

O período mais crítico é o primeiro ano depois da perda. É a primeira vez que você passa por datas importantes da sua vida e da vida da outra pessoa sem ela presente.

Encare esse período com delicadeza e sensibilidade a cada dia, tendo cuidado com os dias mais doloridos, promovendo autocuidado, conversando sobre a pessoa com amigos, família e na psicoterapia.


Momentos de oscilação no luto

O processo natural do luto é não linear, você pode oscilar em sentimentos e sensações normais como negação, ansiedade, raiva, culpa, desamparo, tristeza, alegria e alívio. Sensações físicas podem ocorrer, como dores de cabeça, no estômago, nó na garganta e dor muscular. Seu sistema imunológico fica comprometido.

Você pode também sentir períodos de confusão e desorganização, ter lapsos de memória e dificuldade de terminar as ações que inicia. Pode haver restrição ou excesso de sono, apetite sexual, abuso de substâncias como álcool, fumo, drogas ou medicamentos e querer isolar-se socialmente.


Todas são reações normais e até esperadas, porém lembre-se que os excessos adoecem, é preciso procurar acompanhamento psicológico ou grupos de apoio ao luto.


A pessoa enlutada enfrentará momentos em que estará com o foco em sua perda, que envolve sofrimento, fuga da realidade, ver fotografias, ruminar lembranças e a idealização sobre como seria a vida com a presença da pessoa que perdeu.

Há também, momentos do luto que são dedicados a restauração, onde a pessoa tenta se ajustar à nova realidade, assumindo tarefas necessárias, cuidando de si e aprendendo a ser feliz nesse novo cenário.

Nos momentos de restauração, é interessante que se volte o olhar para si, para poder se reencontrar através do amor que a pessoa sentia por você e que você sente pela pessoa. É um tempo conexão onde você cria novas referências a partir do legado que a pessoa transferiu nos cuidados e ensinamentos ao longo do tempo que permaneceram juntos.


Viver o luto é esse processo de idas e vindas, algumas vezes é solitário, outras buscamos conversar com as pessoas. Algumas vezes é um processo de adoecimento e precisa de profissionais em vez de palavras vazias como "o tempo cura" ou "a vida é assim mesmo, todo mundo passa por isso".


Para aqueles que gostariam prestar apoio e cuidados para alguém que está em luto, ofereça apenas sua presença, respeitar o silêncio e permanecer presente é o que se pode fazer no processo, aguarde até que esta pessoa queira compartilhar algo com você.


Um conto sobre luto

Este conto está presente no livro infantil A árvore das lembranças, escrito por Britta Teckentrup. Ele aborda a morte e o luto de forma delicada.


É um livro sobre morte e a vida, as lembranças e sobre como podemos manter vivo quem amamos em nossa memória.


Segue a história contada em audio e abaixo a descrição. Bom conto.

Era uma vez uma raposa que vivia em harmonia na floresta com os outros animais. Ela levou uma vida longa e feliz, mas estava ficando cansada. Bem devagar ela foi até seu cantinho favorito na clareira, olhou para a floresta pela ultima vez e se deitou, fechou os olhos, respirou fundo e caiu no sono para sempre.


Era inverno e começou a nevar, formando uma fina camada de neve por cima da raposa.


A coruja que via tudo a distância se aproximou triste e aos poucos outros animais amigos começaram a se aproximar. Sentaram ao lado dela e permaneceram em silêncio por muito tempo.

Passado um tempo a coruja sorriu e quedou o silêncio lembrando que no outono elas competiam para ver quem conseguia pegar mais folhas.

O rato lembrou que ali mesmo tinha visto o por do sol com ela inúmeras vezes e outros amigos também lembraram. O coelho sorriu ao contar que ele e a raposa costumavam brincar de pega-pega no matagal.

Cada amigo foi lembrando os momentos especiais que tinham vivido com a raposa que, com sua ternura e generosidade, havia deixado uma marca feliz e especial em cada um de seus amigos e eles sorriram ao se lembrar dela.


Enquanto eles lembravam momentos tão especiais com a amiga raposa, uma plantinha laranjada surgiu na neve, onde seu corpo estava deitado e a cada história contata, ela ganhava tamanho, forma e cor, se transformando em uma árvore.

Ao notarem a árvore os bichos entenderam que a raposa era parte deles. Nos dias, nas semanas e meses seguintes os animais recordaram muitas outras histórias com a raposa e o peso da saudade que sentiam no peito foi diminuindo. Quanto mais se lembravam dela, mais a árvore crescia e ficava bonita, até que se tornou a mais alta da floresta.

Era uma árvore feita de lembranças e repleta e amor. Ela era tão grande que podia abrigar todos os bichos e assim aconteceu. A coruja e os pássaros construíram ninhos e criaram seus filhos nela, o esquilo montou uma toca no tronco e os demais animais repousaram sob sua sombra.


A árvore deu força e abrigo a todos que amaram a raposa. Assim a raposa continuou viva para sempre em seus corações.

 

E aí, gostou do conteúdo?

Me envie dúvidas e sugestões pelo chat ou pela caixa de mensagens.

Ficarei animada em escrever para você!


por Letícia de Andrade Rodrigues

Psicóloga Clínica de Orientação Junguiana

CRP 08/19065


PSICOTERAPIA ON-LINE INDIVIDUAL



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